O Trabalho Social de Pestalozzi
Fazenda Neuhof

Por conta da leitura das obras de Rousseau toma aulas de agricultura e, junto com a esposa, instala, no ano de 1774, a Fazenda Neuhof (Nova), dando início a um instituto para crianças pobres, numa proposta que unia educação e trabalho.
Pestalozzi tinha em mente melhorar as terras por meio de novos métodos de cultura e viver uma vida de acordo com as idéias naturalistas dominantes.
Entretanto, transformou a fazenda num instituto filantrópico para crianças abandonadas, onde elas trabalhavam na produção da fazenda e em outras ocupações. Sua falta de habilidade na administração do negócio e ao mesmo tempo escola profissional levou-o à falência.
A experiência dura até o ano de 1780, data em que as dívidas não mais permitiram a continuidade desse trabalho. Pestalozzi perde a fazenda, restando-lhe apenas um pequeno sítio, e sua esposa, adoecida, retorna ao lar dos pais para tratamento de saúde.
Foram suas idéias de redenção do povo pela educação que o levaram a criar a Fazenda Neuhof: "No meu peito de criança, o coração já batia por isso: o povo é miserável, quero ajudá-lo!". Sua intenção era formar um grande lar, onde as crianças órfãs e mendigas pudessem ter uma formação moral e profissionalizante. A relação estabelecida com os alunos deveria ser como a de pai e filhos: baseada no amor e na fé no potencial adormecido das crianças. Pestalozzi esperava sustentar a obra por si mesmo, com o seu trabalho e com o das crianças.
Entretanto, Pestalozzi nunca teve vocação para as questões da administração e suas idéias sempre esbarravam na sua inabilidade para conjugar o idealismo com a ordem financeira do empreendimento, motivos que levaram ao fracasso e à falência completa.
Leonardo e Gertrudes

Por conta de seu idealismo e da experiência acumulada, Pestalozzi começa a publicar vários escritos, dedicando-se à literatura e ao jornalismo. Fica famoso com a publicação do livro Leonardo e Gertrudes, em 1781, mas desgosta-se com a crítica e o público que o recebem como um romancista folhetinesco, enquanto ele mesmo se considera, e de fato é, um escritor educacional, pois o livro nada mais é do que um romance pedagógico.
Escrito como novela popularizou a idéia da reforma educacional. O propósito do livro era descrever a vida simples do povo rural e as grandes modificações causadas pela inteligência e devotamento de uma simples mulher.
Leonardo e Gertrudes foi desdobrado em quatro volumes reproduzindo na trama os diálogos simples da gente camponesa, e dirigindo-se ao povo. A abundância de situações, a sutileza das abordagens psicológicas, a ação narrada com emoção e o alcance social e educativo da obra justificam sua extensão.
Os volumes foram editados, respectivamente, nos anos de 1781, 1783, 1785 e 1787. Neles, Pestalozzi combina suas experiência pessoais com suas propostas não-realizadas de transformação social.
Em toda a obra fica explícito que a base de toda transformação moral, de todo resgate da natureza humana deve partir do sentimento. Sem um impulso emocional em direção ao bem, nada se pode mudar.
Por suas críticas sociais e luta constante em benefício da população, recebe no ano de 1792 o título de cidadão honorário da França, dado pelo governo revolucionário. Seis anos depois acontece a revolução suíça e ele torna-se redator chefe do jornal Folha Popular Helvética.
De 1780 a 1798 dedicou-se intensamente à atividade literária. O pensamento fundamental de Pestalozzi era sempre o mesmo: as reformas sociais e políticas deviam surgir pela educação - não da educação tradicional, mas de um novo processo de desenvolvimento que resultaria na reforma moral e intelectual do povo.
A Revolução Francesa influenciou fortemente Pestalozzi. Ele percebeu que os aristocratas a quem se dirigia, numa tentativa de conscientizar as elites da necessidade de um esforço pela educação popular, eram indiferentes ao seu ideal. A fé no despotismo esclarecido, tanto defendida pelos iluministas, terminara.
Em 1798 acontece a revolução suíça e ele torna-se redator do jornal Folha Popular Helvética, mas seu discurso, cada vez mais educacional, distancia-se do ardor revolucionário e da esperança política de mudanças sociais por parte do governo.
Orfanato de Stans

O coração de Pestalozzi estava inquieto. Os anos passavam e a tarefa da educação das crianças não se concretizava. Seu idealismo não encontrava eco nos príncipes e burgueses ricos. Surge então, por causa da guerra napoleônica, a oportunidade: dirigir um instituto para crianças órfãs, vítimas da guerra, na cidade de Stans. O governo suíço providencia a verba e a estrutura para o projeto e Pestalozzi é agora diretor de um orfanato. O ano: 1798.
Torna-se mestre-escola e desenvolve com as crianças as novas práticas educativas que tanto escrevera. Combina as atividades educativas com o trabalho manual e torna-se, além de professor, o pai daquelas crianças.
O trabalho dura seis meses e ali, em condições adversas, ele aplica a pedagogia do amor para fortalecer o caráter. É diretor, pai, professor, faxineiro. Questões políticas encerram a atividade e ele rompe com o governo, lançando a Carta de Stans, onde explica sua filosofia e sua metodologia.
"Minha convicção e meu objetivo eram um só.
Na verdade, eu pretendia provar, com minha experiência, que as vantagens da educação familiar devem ser reproduzidas pela educação pública e que a segunda só tem valor para a humanidade se imitar a primeira.
Aos meus olhos, ensino escolar que não abranja todo o Espírito, como exige a educação do homem, e que não seja construído sobre a totalidade viva das relações familiares conduz apenas a um método artificial de encolhimento de nossa espécie.
Toda a boa educação exige que o olho materno acompanhe, dentro do lar, a cada dia, a cada hora, toda a mudança no estado de alma de seu filho, lendo-o com segurança nos seus olhos, na sua boca, na sua fronte.
E exige essencialmente que a força do educador seja pura força paterna, animada pela presença, em toda a extensão, das circunstâncias familiares.
Sobre isso eu construí. Que o meu coração estava preso às crianças, que a sua felicidade era a minha felicidade, a sua alegria a minha alegria - elas deviam ler isso na minha fronte, perceber isso nos meus lábios, desde manhã cedinho até tarde da noite, a cada instante do dia.
O homem quer o Bem com tanto gosto, a criança tem tanto prazer em abrir os ouvidos para o Bem! Mas ela não o quer por ti, professor, ela não o quer por ti, educador, ela o quer por si mesma. O Bem, para o qual deves conduzi-la, não deve ter nenhuma relação com os teus caprichos e com as tuas paixões. É preciso que a natureza da coisa seja boa em si e pareça boa aos olhos da criança. Ela precisa sentir a necessidade da tua vontade, conforme sua situação e suas carências, antes que ela queira a mesma coisa.
Ela quer tudo o que a torna amável, tudo o que lhe traz reconhecimento, tudo o que excita nela grandes expectativas, tudo o que nela gera energia, que a faça dizer: "Eu sei fazer".
Mas toda essa vontade não é produzida por palavras, e sim pelos cuidados que cercam a criança e pelos sentimentos e forças gerados por esses cuidados. As palavras não produzem a coisa em si, mas apenas o seu significado, a sua consciência."
(Trecho da "Carta de Stans", descrevendo o trabalho realizado no orfanato, em 1799)
Instituto de Burgdorf

Convidado pela prefeitura da cidade de Burgdorf para instalar um seminário de professores, Pestalozzi ali trabalha de 1799 a 1804, lançando em 1801 o livro Como Gertrudes Ensina seus Filhos.
Em Burgdorf ele "psicologiza a educação" e consegue estabelecer uma escola particular, apenas parcialmente subvencionada pelo governo.
Viaja a Paris e, na volta, prepara a transferência das atividades para a cidade de Iverdon, instalando num castelo o Instituto de Iverdon, escola para crianças, que funcionou até 1825, chegando ao expressivo número de mais de 150 alunos internos.
Entre os anos de 1802-1803, compreendendo os meses de novembro a fevereiro, viaja a Paris onde recebe inúmeras homenagens e participa de reuniões com os revolucionários franceses.
As principais idéias de Pestalozzi sobre a educação podem ser assim resumidas:
- Idéia da educação humana baseada na natureza espiritual e física da criança.
- Idéia da educação como desenvolvimento interno, formação espontânea, embora necessitada de direção.
- Idéia da educação baseada nas circunstâncias em que se encontra o homem.
- Idéia da educação social e da escola popular, contra a anterior concepção individualista da educação.
- Idéia da educação profissional, subordinada à educação geral.
- Idéia da intuição como base da educação intelectual e espiritual.
- Idéia da educação religiosa íntima, não-confessional, promovendo a educação moral do ser.
Instituto de Iverdon

O Instituto de Iverdon é considerado escola-modelo para toda a Europa. Pestalozzi mesmo continua pobre. Seu lema: "tudo para os outros, nada para mim". É conhecido como "Pai Pestalozzi" e dedica-se intensamente a amar e aplicar a educação moral.
Iverdon funcionou sob a direção de Pestalozzi durante vinte anos, de 1804/1805 a 1824/1825, instalado num castelo medieval perto do Lago Neuchâtel, e foi considerado instituto escolar modelo para a Europa, segundo o parecer de renomados filósofos, cientistas, literatos e personalidades políticas da época, que o visitaram e dali saíram maravilhados, tais como os sábios Humboldt, Saint-Hilaire, Cuvier, Biot, Maine de Biran, Madame de Stael, Robert Owen, Goethe, Fichte e diversos membros da realeza.
No Instituto de Iverdon, Pestalozzi reuniu educadores de várias partes e recebeu a visita de educadores que se tornaram célebres: Froebel, criador do jardim de infância; Carl Ritter, fundador da geografia científica; Herbart, que desenvolveu a psicologia..
O funcionamento do Instituto de Iverdon era revolucionário para os padrões da época: portões sempre abertos, liberdade para os alunos, dez horas de aula por dia, salas de trabalho, trabalhos manuais, aulas de ginástica e natação ao ar livre, pesquisas de botânica e biologia junto à natureza, utilização da música e dos alunos mais adiantados como sub-mestres. Todos os domingos, numa assembléia geral, era feita uma avaliação dos trabalhos desenvolvidos na semana.
Segundo depoimento de ex-alunos, "Não havia castigos nem recompensas. Pestalozzi não queria a emulação nem o medo. Só admitia a disciplina do dever, ou melhor, a da afeição, do amor".
O curso completo de instrução no Instituto de Iverdon não tinha duração fixa, estendendo-se desde a idade de nove ou dez anos, ou mesmo desde os sete, até os quinze ou dezesseis anos. À instrução primária e secundária, compreendida naquele período, seguia-se, para aqueles que o quisessem, um terceiro e último grau de educação, técnica e praticamente destinada a formar bons professores e professores na ciência da educação e na arte pedagógica.
Em 1818 funda na cidade de Clindy, próxima a Iverdon, um instituto de educação para crianças pobres, que no ano seguinte é anexado ao Instituto de Iverdon, causando revolta em muitos pais, por preconceito.
Línguas, raças, crenças, culturas e hábitos diferentes se misturavam em Iverdon, aprendendo as crianças e os jovens, na vivência escolar, a lição da fraternidade, da igualdade e da liberdade.
Uma média de 150 alunos internos (a maioria) aprendiam com Pestalozzi que "o amor é o eterno fundamento da educação".
Fontes:
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