terça-feira, 30 de julho de 2013

JEAN PIAGET - A TEORIA BÁSICA


  

A TEORIA BÁSICA


DE JEAN PIAGET


Desde muito cedo Jean Piaget demonstrou sua capacidade de observação. Aos onze anos percebeu um melro albino em uma praça de sua cidade. A observação deste pássaro gerou seu primeiro trabalho científico. Formado em Biologia interessou-se por pesquisar sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos. As teorias de Jean Piaget, portanto, tentam nos explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos. Daí o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como o estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos. 

      Convém esclarecer que as teorias de Piaget têm comprovação em bases científicas. Ou seja, ele não somente descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência mas, experimentalmente, comprovou suas teses. 
      Resumir a teoria de Jean Piaget não é uma tarefa fácil, pois sua obra tem mais páginas que a Enciclopédia Britânica. Desde que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência humana, Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, até às vésperas de sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos. Repassamos aqui algumas idéias centrais de sua teoria, com a colaboração do “Glossário de Termos”.




      1 - A inteligência para Piaget é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui "desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas" (RAMOZZI-CHIAROTTINO apud CHIABAI, 1990, p. 3).




      2 - Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas.




      3 - “Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura” (Piaget). Ou seja, a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação. Sua teoria nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inserí-lo num sistema de relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo. O que implica os dois pólos da atividade inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência ou ëstruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget, 1982). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar" (Piaget, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o objeto. E "essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, etc. ... e permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento" (1974, p. 52).




      4 - O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intra-uterino e vai até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se portanto em etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget chamou de “construtivismo sequencial”.



      A seguir os períodos em que se dá este desenvolvimento motor, verbal e mental.



      A. Período Sensório-Motor - do nascimento aos 2 anos, aproximadamente. 
      A ausência da função semiótica é a principal característica deste período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência iminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase ("água" para dizer que quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua conduta social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele).




      B. Período Simbólico - dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente. 
      Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, etc.. Podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de formar imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer (uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). É também o período em que o indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na garagem"). A linguagem está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as argumentações dos outros. Duas crianças “conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que o outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo. Não há liderança e os pares são constantemente trocados. 
      Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.




      C. Período Intuitivo - dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente. 
      Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”, pois o indíviduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem no entanto incluir conjuntos menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo). Quanto à linguagem não mantém uma conversação longa mas já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do companheiro. 
      Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.




      D. Período Operatório Concreto - dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente. 
      É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número, substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o mundo de forma lógica ou operatória. Sua organização social é a de bando, podendo participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos. A conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que no entanto possam discutrir diferentes pontos de vista para que cheguem a uma conclusão comum.




      E. Período Operatório Abstrato - dos 11 anos em diante. 
      É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que permite que a linguagem se dê a nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.




      5 - A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade. A compreensão deste processo é fundamental para que os professores possam também compreender com quem estão trabalhando. 
      A obra de Jean Piaget não oferece aos educadores uma didática específica sobre como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança. Piaget nos mostra que cada fase de desenvolvimento apresenta características e possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições. O conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam oferecer estímulos adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo. 
      “Aceitar o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta revolução no processo escolar (o professor transforma-se numa espécia de ‘técnico do time de futebol’, perdendo seu ar de ator no palco). (...) Quem quiser segui-lo tem de modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados, milenarmente (aliás, é assim que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se uma arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’... aí não está havendo uma escola piagetiana!” (Lima, 1980, p. 131).


      O lema “o professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”, do Método Psicogenético, criado por Lauro de Oliveira Lima, tem suas bases nestas teorias epistemológicas de Jean Piaget. Existem outras escolas, espalhadas pelo Brasil, que também procuram criar metodologias específicas embasadas nas teorias de Piaget. Estas iniciativas passam tanto pelo campo do ensino particular como pelo público. Alguns governos municipais, inclusive, já tentam adotá-las como preceito político-legal. 
      Todavia, ainda se desconhece as teorias de Piaget no Brasil. Pode-se afirmar que ainda é limitado o número daqueles que buscam conhecer melhor a Epistemologia Genética e tentam aplicá-la na sua vida profissional, na sua prática pedagógica. Nem mesmo as Faculdades de Educação, de uma forma geral, preocupam-se em aprofundar estudo nestas teorias. Quando muito oferecem os períodos de desenvolvimento, sem permitir um maior entendimento por parte dos alunos.

Referências


CHIABAI, Isa Maria. A influência do meio rural no processo de cognição de crianças da pré-escola: uma interpretação fundamentada na teoria do conhecimento de Jean Piaget. São Paulo, 1990. Tese (Doutorado), Instituto de Psicologia, USP. 165 p.

LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget para principiantes. 2. ed. São Paulo: Summus, 1980. 284 p.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. 389 p.



OUTROS SITES SOBRE JEAN PIAGET:


Adriana Oliveira Lima - Fortaleza
Escola do Futuro - São Paulo
Grandes Mestres da Educação - Vera Zacharias, São Paulo





quinta-feira, 18 de julho de 2013

Jean-Jacques Rousseau na Educação


Jean-Jacques Rousseau na Educação

Seus escritos
Ainda que um autodidata, Jean-Jacques Rousseau, nascido em Genebra, na Suíça, leitor voraz desde tenra idade, desenvolvera uma curiosidade intelectual absolutamente fantástica. Ao longo da sua vida - morreu de uremia aos 66 anos de idade em 2 de julho1778 - praticamente não houve área de interesse que lhe fosse estranha.
Ele escreveu sobre tudo, desde ensaios políticos que o universalizaram (Discurso sobre a desigualdade, O Contrato social, etc.) até sobre música e botânica. Além disso, consagrou-se como um notável romancista, escrevendo um livro considerado como seminal para o movimento romântico que o sucedeu - A nova Heloisa, 1757 - mantendo paralelamente uma intensa correspondência com seus conterrâneos e adversários ideológicos ou críticos da sua obra.
De certo modo, ele inseriu-se na grande tradição francesa do intelectual engajado que atua em todos os gêneros possíveis (jornalismo, composição de óperas, autoria de peças teatrais, ensaio político e jurisconsulto), não deixando de fora as questões sobre educação, cujo último representante foi Jean-Paul Sartre, morto em 1980.
Educação

Os tratados clássicos sobre educação que até então se conheciam voltavam-se fundamentalmente para a instrumentalização e formação de alguém da elite: do príncipe. Nos tempos clássicos foi celebrado o ensaio de Xenofonte, denominado de Ciropédia, aparecido no século 4 a.C., seguido da vasta obra de Plutarco intitulada Vidas Paralelas de Homens Ilustres, no século 2, composta por 50 biografias curtas de personagens do mundo político grecoromano para que servissem como exemplo aos futuros estadistas e herdeiros das casas reais.

No Renascimento, foi a vez de Erasmo de Rotterdam com A Educação do Príncipe Cristão, de 1515, escrito para atender a formação do então jovem Carlos V, que iria se tornar "Imperador do Mundo", enquanto que Maquiavel em Florença encerrava a redação do seu O Príncipe, em 1521, obra que se tornou um manual político universal.
Rousseau, alma plebeia e democrata, voltou sua atenção para educar alguém comum, um "aluno imaginário" que não tinha raízes na alta sociedade, alguém vindo do mundo dos anônimos que ele batizou com o singelo nome de Émile (Emilio). O garoto em seus primeiros anos de formação não frequentou escola, passando longe dos bancos escolares. Rousseau recomendou que lhe fossem apresentados livros somente aos 15 anos, idade dos albores da razão, para que desta forma o estado natural em que nascera se mantivesse intacto e sua boa alma não se visse perturbada por nenhuma ideia ou tendência que pudesse infelicitá-lo.
O modelo de instrução que ele então advogava repetia o do passado clássico, quando cada rapazinho tinha um preceptor ou um tutor que lhe indicava os bons caminhos do aprendizado e da vida. Avesso à autoridade, o pensador reservava ao preceptor um papel discreto, uma espécie de guia confiável apto a fazer o aluno escapar das pequenas armadilhas da existência.
Neste espaço de tempo Émile crescia sem ver seu corpo castigado por varas ou sua mão inchada pelo castigo da palmatória. Mas isto não significava atender ao capricho da criança, pois tal concessão significava a ruína de um projeto que ele supunha ser bem-sucedido. Alimentado desde as primeiras horas pelo leite materno, andava sempre mais próximo da natureza possível. Quanto mais tempo ele tardasse em frequentar a sociedade, maior seriam suas oportunidades de manter-se fiel à bondade natural. Sim, porque Rousseau entendia que todos os malefícios que os homens e as mulheres sofriam decorriam do convívio em sociedade.
Era a sociedade/civilização que de certa forma obrigava-os a serem falsos, a mentirem, a serem hipócritas, a externar pensamentos que não eram os seus próprios. Ele percebera, quando frequentara os salões de Paris, que a maioria das pessoas vivia como se estivesse num teatro representando personagens que nada tinham a haver com a sua autêntica personalidade ou maneira de ser.
Devemos lembrar que ao longo do século 18 todas as pessoas que frequentavam os ambientes sociais (aristocratas, nobres e burgueses), que se reuniam nos palácios e nas mansões, que se faziam presentes nas festas, usavam peruca (homens e mulheres), usavam maquiagem (homens e mulheres) e vestiam-se com extravagância (meias de seda, calças de cetim, casacos de fustão coloridos, etc.), recorrendo muitos deles às mascaras nas noites de bailes. Homens usavam salto alto para disfarçar a baixa estatura, enquanto as mulheres recorriam aos espartilhos e anquinhas para realçar as formas que não eram as delas. Não se esquecendo de mencionar os exageros do ruge, do baton e das unhas pintadas.
Em sociedade, enfim, todos aparentavam ser outra coisa do que realmente eram. E o que ocorria com o figurino deles repetia-se com os sentimentos, fingindo emoções, simulando afetos que não cultivavam, disfarçando os ódios que os embalavam por detrás de sorrisos e afabilidades enganadoras. Era contra esta encenação social que ele se voltou, pregando o retorno às relações naturais e autênticas.
E isto só poderia ser retomado se os homens voltassem a frequentar a natureza, se fizessem como ele, que se tornou adepto das caminhadas em meios aos bosques e pradarias colhendo plantas para o seu herbário. Para escapar das armadilhas da civilização, somente o ambiente natural tem o poder de salvar o homem da perdição da vida social.
Se o ser humano nasce bom, o castigo físico é um crime, uma brutalidade inútil que somente avilta a criança e a predispõe à mentira e à falsidade para escapar das punições severas. Igualmente de nada lhe serve a instrução religiosa. O pensador acreditava que cada um escolheria sua fé quando atingisse a idade da razão, sem a imposição de padres ou pastores instrutores. Ele, pessoalmente, simpatizava com "a religião da humanidade", acreditando haver em cada um de nós uma inclinação humanitária natural que nos predispunha a ajudar o próximo e a socorrê-lo sem que fosse necessário consultar os Livros Sagrados ou ser ordenado por um sacerdote.
Também rejeitou no seu ensaio pedagógico usar como exemplo a vida dos grandes estadistas e príncipes do passado. Apesar de ser um admirador confesso de Plutarco, que enalteceu os estadistas célebres, Rousseau procurou mostrar que muitos deles eram homens infelizes, que apesar do poder e da riqueza que concentraram não conseguiram ter uma vida saudável, tornando-se amargurados e solitários em meio a famílias destruídas pela cobiça e pela inveja.
Émile devia seguir o seu coração, não precisava imitar ninguém, pois quanto mais mantivesse a originalidade dos seus sentimentos mais próximo da felicidade se encontraria.

Reação hostil

O livro de Rousseau foi condenado em todas as partes como um manual ateu, como obra de um anti-Cristo, um pensador que mesmo dizendo-se cristão queria suprimir com o cristianismo. De Paris, enviaram um decreto de prisão e, pouco depois, a Universidade de Sorbone emitiu um decreto de censura (agosto de 1762).

O que mais pessoalmente o atingiu foi a determinação do Pequeno Conselho de Genebra, sua cidade natal, ter ordenado a incineração da obra pela mão do carrasco, em junho de 1762. O que o levou a escrever as memoráveis Cartas Escritas da Montanha (Lettres écrites de la montagne, 1763-1764), em defesa do Émile e do Contrato Social, que foram publicados no mesmo ano de 1762. E, também, no ano seguinte, o anúncio do seu rompimento com a cidade e a rejeição do título de cidadão de Genebra.
Refugiado num lugarejo suíço chamado Motiers, em setembro de 1765, ele foi vítima de um apedrejamento incitado por um pastor que atiçou a população local contra ele, incidente que felizmente não provocou maiores consequências, mas o assustou o suficiente para exilar-se em Londres.
Voltaire, inimigo declarado de Rousseau, achou os livros dele "obras de um louco" e que bem mereciam o destino das chamas. Mas, gradativamente, o texto de Rousseau se destacou das demais obras dos iluministas fazendo dele o melhor representante do movimento e um dos mais influentes pensadores que a França produziu até o surgimento de Jean Paul Sartre na segunda metade do século 20.
Principais obras
·         Discurso Sobre as Ciências e as Artes
·         Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens
·         Do Contrato Social
·         Emílio, ou da Educação
·         Os Devaneios de um Caminhante Solitário

Cronologia
·         1712: Nasce em Genebra a 28 de junho Jean-Jacques Rousseau. Suzanne Bernard, mãe de Rousseau, morre em 7 de julho.
·         1719Daniel Defoe publica Robinson Crusoé, uma das principais influências literárias de Rousseau.
·         1745: Une-se a Thérèse Levasseur, com quem tem cinco filhos, que são abandonados.
·         1749: Escreve o "Discurso sobre as Ciências e as Artes"
·         1762: Publica Do Contrato Social em abril e o Emílio, ou Da Educação em maio.
·         1776: Escreve os Devaneios de um Caminhante Solitário. Declaração da Independência das colônias inglesas na América.
·         1778: Rousseau termina de escrever os Devaneios. Morre em 2 de julho e é sepultado em Ermenonville. Seus restos mortais foram traslados para o Panteão de Paris em 1794. Morte de Voltaire.

Bibliografia

Dent, N.J.H. - Dicionário Rousseau. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.
Goyard-Fabre, Simone (org.) - Politique de Rousseau.Montmorency: Musée Jean-Jacques Rousseau, 1995.
Rousseau, Jean-Jacques - Emilio ou da educação. São Paulo: Difel, 196.
Rousseau, Jean-Jacques - Oeuvres completes. Paris: Éditions Du Seuil, 1971, 3 v.
Starobisnki, Jean - Jean-Jacques Rousseau, a transparência e o obstáculo. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O TRABALHO SOCIAL DE PESTALOZZI

O Trabalho Social de Pestalozzi

Fazenda Neuhof

Por conta da leitura das obras de Rousseau toma aulas de agricultura e, junto com a esposa, instala, no ano de 1774, a Fazenda Neuhof (Nova), dando início a um instituto para crianças pobres, numa proposta que unia educação e trabalho.

Pestalozzi tinha em mente melhorar as terras por meio de novos métodos de cultura e viver uma vida de acordo com as idéias naturalistas dominantes.

Entretanto, transformou a fazenda num instituto filantrópico para crianças abandonadas, onde elas trabalhavam na produção da fazenda e em outras ocupações. Sua falta de habilidade na administração do negócio e ao mesmo tempo escola profissional levou-o à falência.

A experiência dura até o ano de 1780, data em que as dívidas não mais permitiram a continuidade desse trabalho. Pestalozzi perde a fazenda, restando-lhe apenas um pequeno sítio, e sua esposa, adoecida, retorna ao lar dos pais para tratamento de saúde.

Foram suas idéias de redenção do povo pela educação que o levaram a criar a Fazenda Neuhof: "No meu peito de criança, o coração já batia por isso: o povo é miserável, quero ajudá-lo!". Sua intenção era formar um grande lar, onde as crianças órfãs e mendigas pudessem ter uma formação moral e profissionalizante. A relação estabelecida com os alunos deveria ser como a de pai e filhos: baseada no amor e na fé no potencial adormecido das crianças. Pestalozzi esperava sustentar a obra por si mesmo, com o seu trabalho e com o das crianças.

Entretanto, Pestalozzi nunca teve vocação para as questões da administração e suas idéias sempre esbarravam na sua inabilidade para conjugar o idealismo com a ordem financeira do empreendimento, motivos que levaram ao fracasso e à falência completa.

Leonardo e Gertrudes

Por conta de seu idealismo e da experiência acumulada, Pestalozzi começa a publicar vários escritos, dedicando-se à literatura e ao jornalismo. Fica famoso com a publicação do livro Leonardo e Gertrudes, em 1781, mas desgosta-se com a crítica e o público que o recebem como um romancista folhetinesco, enquanto ele mesmo se considera, e de fato é, um escritor educacional, pois o livro nada mais é do que um romance pedagógico.

Escrito como novela popularizou a idéia da reforma educacional. O propósito do livro era descrever a vida simples do povo rural e as grandes modificações causadas pela inteligência e devotamento de uma simples mulher.

Leonardo e Gertrudes foi desdobrado em quatro volumes reproduzindo na trama os diálogos simples da gente camponesa, e dirigindo-se ao povo. A abundância de situações, a sutileza das abordagens psicológicas, a ação narrada com emoção e o alcance social e educativo da obra justificam sua extensão. 

Os volumes foram editados, respectivamente, nos anos de 1781, 1783, 1785 e 1787. Neles, Pestalozzi combina suas experiência pessoais com suas propostas não-realizadas de transformação social.

Em toda a obra fica explícito que a base de toda transformação moral, de todo resgate da natureza humana deve partir do sentimento. Sem um impulso emocional em direção ao bem, nada se pode mudar.


Por suas críticas sociais e luta constante em benefício da população, recebe no ano de 1792 o título de cidadão honorário da França, dado pelo governo revolucionário. Seis anos depois acontece a revolução suíça e ele torna-se redator chefe do jornal Folha Popular Helvética.


De 1780 a 1798 dedicou-se intensamente à atividade literária. O pensamento fundamental de Pestalozzi era sempre o mesmo: as reformas sociais e políticas deviam surgir pela educação - não da educação tradicional, mas de um novo processo de desenvolvimento que resultaria na reforma moral e intelectual do povo.

A Revolução Francesa influenciou fortemente Pestalozzi. Ele percebeu que os aristocratas a quem se dirigia, numa tentativa de conscientizar as elites da necessidade de um esforço pela educação popular, eram indiferentes ao seu ideal. A fé no despotismo esclarecido, tanto defendida pelos iluministas, terminara.

Em 1798 acontece a revolução suíça e ele torna-se redator do jornal Folha Popular Helvética, mas seu discurso, cada vez mais educacional, distancia-se do ardor revolucionário e da esperança política de mudanças sociais por parte do governo.

Orfanato de Stans

O coração de Pestalozzi estava inquieto. Os anos passavam e a tarefa da educação das crianças não se concretizava. Seu idealismo não encontrava eco nos príncipes e burgueses ricos. Surge então, por causa da guerra napoleônica, a oportunidade: dirigir um instituto para crianças órfãs, vítimas da guerra, na cidade de Stans. O governo suíço providencia a verba e a estrutura para o projeto e Pestalozzi é agora diretor de um orfanato. O ano: 1798.

Torna-se mestre-escola e desenvolve com as crianças as novas práticas educativas que tanto escrevera. Combina as atividades educativas com o trabalho manual e torna-se, além de professor, o pai daquelas crianças.

O trabalho dura seis meses e ali, em condições adversas, ele aplica a pedagogia do amor para fortalecer o caráter. É diretor, pai, professor, faxineiro. Questões políticas encerram a atividade e ele rompe com o governo, lançando a Carta de Stans, onde explica sua filosofia e sua metodologia.


"Minha convicção e meu objetivo eram um só.

Na verdade, eu pretendia provar, com minha experiência, que as vantagens da educação familiar devem ser reproduzidas pela educação pública e que a segunda só tem valor para a humanidade se imitar a primeira.
Aos meus olhos, ensino escolar que não abranja todo o Espírito, como exige a educação do homem, e que não seja construído sobre a totalidade viva das relações familiares conduz apenas a um método artificial de encolhimento de nossa espécie.
Toda a boa educação exige que o olho materno acompanhe, dentro do lar, a cada dia, a cada hora, toda a mudança no estado de alma de seu filho, lendo-o com segurança nos seus olhos, na sua boca, na sua fronte.
E exige essencialmente que a força do educador seja pura força paterna, animada pela presença, em toda a extensão, das circunstâncias familiares.
Sobre isso eu construí. Que o meu coração estava preso às crianças, que a sua felicidade era a minha felicidade, a sua alegria a minha alegria - elas deviam ler isso na minha fronte, perceber isso nos meus lábios, desde manhã cedinho até tarde da noite, a cada instante do dia.
O homem quer o Bem com tanto gosto, a criança tem tanto prazer em abrir os ouvidos para o Bem! Mas ela não o quer por ti, professor, ela não o quer por ti, educador, ela o quer por si mesma. O Bem, para o qual deves conduzi-la, não deve ter nenhuma relação com os teus caprichos e com as tuas paixões. É preciso que a natureza da coisa seja boa em si e pareça boa aos olhos da criança. Ela precisa sentir a necessidade da tua vontade, conforme sua situação e suas carências, antes que ela queira a mesma coisa.
Ela quer tudo o que a torna amável, tudo o que lhe traz reconhecimento, tudo o que excita nela grandes expectativas, tudo o que nela gera energia, que a faça dizer: "Eu sei fazer".
Mas toda essa vontade não é produzida por palavras, e sim pelos cuidados que cercam a criança e pelos sentimentos e forças gerados por esses cuidados. As palavras não produzem a coisa em si, mas apenas o seu significado, a sua consciência."

(Trecho da "Carta de Stans", descrevendo o trabalho realizado no orfanato, em 1799)

Instituto de Burgdorf


Convidado pela prefeitura da cidade de Burgdorf para instalar um seminário de professores, Pestalozzi ali trabalha de 1799 a 1804, lançando em 1801 o livro Como Gertrudes Ensina seus Filhos

Em Burgdorf ele "psicologiza a educação" e consegue estabelecer uma escola particular, apenas parcialmente subvencionada pelo governo.

Viaja a Paris e, na volta, prepara a transferência das atividades para a cidade de Iverdon, instalando num castelo o Instituto de Iverdon, escola para crianças, que funcionou até 1825, chegando ao expressivo número de mais de 150 alunos internos.

Entre os anos de 1802-1803, compreendendo os meses de novembro a fevereiro, viaja a Paris onde recebe inúmeras homenagens e participa de reuniões com os revolucionários franceses.

As principais idéias de Pestalozzi sobre a educação podem ser assim resumidas:
  1. Idéia da educação humana baseada na natureza espiritual e física da criança.
  2. Idéia da educação como desenvolvimento interno, formação espontânea, embora necessitada de direção.
  3. Idéia da educação baseada nas circunstâncias em que se encontra o homem.
  4. Idéia da educação social e da escola popular, contra a anterior concepção individualista da educação.
  5. Idéia da educação profissional, subordinada à educação geral.
  6. Idéia da intuição como base da educação intelectual e espiritual.
  7. Idéia da educação religiosa íntima, não-confessional, promovendo a educação moral do ser.
Instituto de Iverdon



O Instituto de Iverdon é considerado escola-modelo para toda a Europa. Pestalozzi mesmo continua pobre. Seu lema: "tudo para os outros, nada para mim". É conhecido como "Pai Pestalozzi" e dedica-se intensamente a amar e aplicar a educação moral.

Iverdon funcionou sob a direção de Pestalozzi durante vinte anos, de 1804/1805 a 1824/1825, instalado num castelo medieval perto do Lago Neuchâtel, e foi considerado instituto escolar modelo para a Europa, segundo o parecer de renomados filósofos, cientistas, literatos e personalidades políticas da época, que o visitaram e dali saíram maravilhados, tais como os sábios Humboldt, Saint-Hilaire, Cuvier, Biot, Maine de Biran, Madame de Stael, Robert Owen, Goethe, Fichte e diversos membros da realeza.
No Instituto de Iverdon, Pestalozzi reuniu educadores de várias partes e recebeu a visita de educadores que se tornaram célebres: Froebel, criador do jardim de infância; Carl Ritter, fundador da geografia científica; Herbart, que desenvolveu a psicologia..
O funcionamento do Instituto de Iverdon era revolucionário para os padrões da época: portões sempre abertos, liberdade para os alunos, dez horas de aula por dia, salas de trabalho, trabalhos manuais, aulas de ginástica e natação ao ar livre, pesquisas de botânica e biologia junto à natureza, utilização da música e dos alunos mais adiantados como sub-mestres. Todos os domingos, numa assembléia geral, era feita uma avaliação dos trabalhos desenvolvidos na semana.
Segundo depoimento de ex-alunos, "Não havia castigos nem recompensas. Pestalozzi não queria a emulação nem o medo. Só admitia a disciplina do dever, ou melhor, a da afeição, do amor".
O curso completo de instrução no Instituto de Iverdon não tinha duração fixa, estendendo-se desde a idade de nove ou dez anos, ou mesmo desde os sete, até os quinze ou dezesseis anos. À instrução primária e secundária, compreendida naquele período, seguia-se, para aqueles que o quisessem, um terceiro e último grau de educação, técnica e praticamente destinada a formar bons professores e professores na ciência da educação e na arte pedagógica.

Em 1818 funda na cidade de Clindy, próxima a Iverdon, um instituto de educação para crianças pobres, que no ano seguinte é anexado ao Instituto de Iverdon, causando revolta em muitos pais, por preconceito.

Línguas, raças, crenças, culturas e hábitos diferentes se misturavam em Iverdon, aprendendo as crianças e os jovens, na vivência escolar, a lição da fraternidade, da igualdade e da liberdade.

Uma média de 150 alunos internos (a maioria) aprendiam com Pestalozzi que "o amor é o eterno fundamento da educação".

Fontes:


PESTALOZZI - PENSAMENTOS E LIVROS

Pestalozzi - Pensamentos e livros


Pestalozzi escreveu muito, durante toda a vida. De sua vasta bibliografia podemos destacar:
  • 1777 - Diário de um pai
  • 1780 - Crepúsculos de um eremita
  • 1781 - Leonardo e Gertrudes (1ª parte)
  • 1783 - Leonardo e Gertrudes (2ª parte)
  • 1783 - Legislação e infanticídio (considerada a primeira obra de sociologia infantil publicada no mundo)
  • 1784 - Cristóvão e Elisa
  • 1785 - Leonardo e Gertrudes (3ª parte)
  • 1787 - Leonardo e Gertrudes 4ª parte)
  • 1797 - Minhas indagações sobre a marcha da natureza no desenvolvimento da espécie humana
  • 1801 - Como Gertrudes ensina seus filhos
  • 1809 - Discurso de Lenzburg
  • 1815 - À inocência
  • 1826 - Canto do cisne


Johann Heinrich Pestalozzi - A Educação com Amor

Johann Heinrich Pestalozzi

Foto: Nenhum dos pensadores modernos deu tanta importância ao amor na Educação quanto Pestalozzi


Ele defende que a educação deveria ter como meta a elevação do ser humano e verdadeira dignidade de um ser espiritual, alvo este que pode ser atingido apenas através da educação motivada pelo amor.

Frases de Johann Heinrich Pestalozzi: 

"As faculdades do homem têm de ser desenvolvidas de tal forma que nenhuma delas predomine sobre as outras" 

"A natureza melhor da criança deve ser encorajada o mais cedo possível a combater a força prepotente do instinto animal" 

Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em 1746 em Zurique, na Suíça. Na juventude, ele abandonou os estudos religiosos para se dedicar à agricultura. Quando a empreitada se tornou o primeiro de muitos fracassos materiais de sua vida, Pestalozzi levou algumas crianças pobres para casa, onde encontraram escola e trabalho como tecelãs, aprendendo a se sustentar. Alguns anos depois, a escola se inviabilizou e Pestalozzi passou a explorar suas idéias em livros, entre eles Os Crepúsculos de um Eremita e o romance Leonardo e Gertrudes. Uma nova chance de exercitar seu método só surgiu quando ele já tinha mais de 50 anos, ao ser chamado para dar aulas aos órfãos da batalha de Stans. Mais duas experiências se seguiram, em escolas de Burgdorf e Yverdon. Nesta última, que existiu de 1805 a 1825, Pestalozzi desenvolveu seu projeto mais abrangente, dando aulas para estudantes de várias origens e comandando uma equipe de professores. Divergências entre eles levaram a escola a fechar. Yverdon projetou o nome de Pestalozzi no exterior e foi visitada por muitos dos grandes educadores da época. 

Para a mentalidade contemporânea, amor talvez não seja a primeira palavra que venha à cabeça quando se fala em ciência, método ou teoria. Mas o afeto teve papel central na obra de pensadores que lançaram os fundamentos da pedagogia moderna. Nenhum deles deu mais importância ao amor, em particular ao amor materno, do que o suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). 

Antecipando concepções do movimento da Escola Nova, que só surgiria na virada do século 19 para o 20, Pestalozzi afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolver suas habilidades naturais e inatas. "Segundo ele, o amor deflagra o processo de auto-educação", diz a escritora Dora Incontri, uma das poucas estudiosas de Pestalozzi no Brasil. 

A escola idealizada por Pestalozzi deveria ser não só uma extensão do lar como inspirar-se no ambiente familiar, para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, o pensador suíço não concordava totalmente com o elogio da razão humana. Para ele, só o amor tinha força salvadora, capaz de levar o homem à plena realização moral - isto é, encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina que lhe dá liberdade. "Pestalozzi chega ao ponto de afirmar que a religiosidade humana nasce da relação afetiva da criança com a mãe, por meio da sensação de providência", diz Dora Incontri.

Inspiração na natureza

A vida e obra de Pestalozzi estão intimamente ligadas à religião. Cristão devoto e seguidor do protestantismo, ele se preparou para o sacerdócio, mas abandonou a idéia em favor da necessidade de viver junto da natureza e de experimentar suas idéias a respeito da educação. Seu pensamento permaneceu impregnado da crença na manifestação da divindade no ser humano e na caridade, que ele praticou principalmente em favor dos pobres. 

A criança, na visão de Pestalozzi, se desenvolve de dentro para fora - idéia oposta à concepção de que a função do ensino é preenchê-la de informação. Para o pensador suíço, um dos cuidados principais do professor deveria ser respeitar os estágios de desenvolvimento pelos quais a criança passa. Dar atenção à sua evolução, às suas aptidões e necessidades, de acordo com as diferentes idades, era, para Pestalozzi, parte de uma missão maior do educador, a de saber ler e imitar a natureza - em que o método pedagógico deveria se inspirar.

Bondade potencial

Tanto a defesa de uma volta à natureza quanto a construção de novos conceitos de criança, família e instrução a que Pestalozzi se dedicou devem muito a sua leitura do filósofo franco-suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), nome central do pensamento iluminista. Ambos consideravam o ser humano de seu tempo excessivamente cerceado por convenções sociais e influências do meio, distanciado de sua índole original - que seria essencialmente boa para Rousseau e potencialmente fértil, mas egoísta e submissa aos sentidos, para Pestalozzi. 

"A criança, na concepção de Pestalozzi, era um ser puro, bom em sua essência e possuidor de uma natureza divina que deveria ser cultivada e descoberta para atingir a plenitude", diz Alessandra Arce, professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. O pensador suíço costumava comparar o ofício do professor ao do jardineiro, que devia providenciar as melhores condições externas para que as plantas seguissem seu desenvolvimento natural. Ele gostava de lembrar que a semente traz em si o "projeto" da árvore toda. 

Desse modo, o aprendizado seria, em grande parte, conduzido pelo próprio aluno, com base na experimentação prática e na vivência intelectual, sensorial e emocional do conhecimento. É a idéia do "aprender fazendo", amplamente incorporada pela maioria das escolas pedagógicas posteriores a Pestalozzi. O método deveria partir do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, com ênfase na ação e na percepção dos objetos, mais do que nas palavras. O que importava não era tanto o conteúdo, mas o desenvolvimento das habilidades e dos valores.

Sem notas, castigos ou prêmios

Ao contrário de Rousseau, cuja teoria é idealizada, Pestalozzi, segundo a educadora Dora Incontri, "experimentava sua teoria e tirava a teoria da prática", nas várias escolas que criou. Pestalozzi aplicou em classe seu princípio da educação integral - isto é, não limitada à absorção de informações. Segundo ele, o processo educativo deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça, a mão e o coração. O objetivo final do aprendizado deveria ser uma formação também tripla: intelectual, física e moral. E o método de estudo deveria reduzir-se a seus três elementos mais simples: som, forma e número. Só depois da percepção viria a linguagem. Com os instrumentos adquiridos desse modo, o estudante teria condições de encontrar em si mesmo liberdade e autonomia moral. Como alcançar esse objetivo dependia de uma trajetória íntima, Pestalozzi não acreditava em julgamento externo. Por isso, em suas escolas não havia notas ou provas, castigos ou recompensas, numa época em que chicotear os alunos era comum. "A disciplina exterior, na escola de Pestalozzi, era substituída pelo cultivo da disciplina interior, essencial à moral protestante", diz Alessandra Arce.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

PAULO FREIRE: PRINCIPAIS OBRAS

PRINCIPAIS OBRAS DE PAULO FREIRE












Conscientização Teoria e Prática da Libertação
Paulo Freire, 1979
Uma Introdução ao Pensamento de Paulo Freire


Educação e Mudança
Paulo Freire, 1979


Extensão ou comunicação?
Paulo Freire, 1983





Educar para transformar
Paulo Freire - Livro Fotobiográfico














Pedagogia do Oprimido
Paulo Freire, 1970

 








Poema: "O Anarfabeto"
Campanha de Alfabetização de Adultos